A ironia do “tanto faz”
6 por meia dúzia
Por Sony Carvalho*
Certa
vez, uma professora de português do ensino médio de uma escola estadual
paulista fez o seguinte comentário: “espero que a sociedade consiga fazer a
‘peneiragem’ que escola não pode fazer” e depois deu início à sua aula. Uma
aula normal como qualquer outra, que por tradição se esperava que fosse
lecionada com muita categoria, mas que naquele dia foi terrivelmente
redundante.
Pra
ela talvez aquele simples comentário não tenha feito diferença alguma, ou sequer
ela tenha dado tanta atenção ao que disse. Mas naquela sala algo havia mudado,
pois alguns alunos começaram a fazer a seguintes indagações: “Será mesmo que o
que ela disse está certo?”, “Se não tive jeito na escola, será que algum dia
terei conserto?”, “Será que sou o culpado de tudo isso?”, e foi seguindo essas
indagações que eu construí a minha linha de raciocínio em relação à tal
afirmação da professora.
O
que consegui entender de tudo isso simplesmente foi que nós somos os vilões e os
prejudicados, mas nunca os mocinhos dessa história chamada ensino público.
Somos nós que sofremos com a decadência de nossos professores e com a nossa
própria decadência. Entendi que se nós sempre somos margens da sociedade é
porque queremos e não porque fomos criados assim e, acima de tudo, entendi com
essa afirmação tão cruel, dada no inicio daquela fatídica aula, que tudo não
passa de um grande “tanto faz”.
O
que vivi e o que passei durante 11 anos como secundarista vou passar em dobro
como mão-de-obra barata e, mais uma vez, serei margem da sociedade. Afinal
completar ou não completar o ensino médio é a mesma coisa que trocar ou não 6
por meia dúzia.
E é por ouvir, de professores,
comentários como esses, que cada vez mais acredito na importância da luta do
estudante, de como é crucial que a gente continue se organizando e derrubando
um leão por dia pra mostrar pra todo mundo que o estudante secundarista tem sim
voz ativa.
E, dia após dia, lutar por uma
educação de qualidade, lutar por uma escola pública na qual o estudante entra
pra crescer e não pra virar mais uma estatística, lutar por 10% do PIB e 50% do
fundo social do Pré-Sal para que tenhamos mais investimentos públicos para
educação.
E é por essas e outras que eu
tenho o orgulho de dizer que eu sou militante da União Paulista dos Estudantes
Secundaristas, a entidade estudantil que há mais de 60 anos defende os
interesses dos estudantes paulistas!
*Sony Carvalho é estudante secundarista, e diretor de comunicação da UJS de Caieiras.
Mais um tiro na pouca “moral” que ainda existe
Por Felipe Andrade*
Para aprofundar a decadência da ética e fomentar de forma acachapante o descrédito à nossa (ainda) pequena crença na suposta ética da velha mídia, veio-nos como um chute no traseiro em mais um dia do imenso porre de melancolia que o segmento (imprensa) sofre - a tentativa de invasão ao apartamento do ex-ministro e atual membro da direção do PT, José Dirceu, quebrou a fina vidraça que segurava os principais “calunistas” da tropa de choque das oito famílias que se intitulam donas da informação nacional. Agora quebrou o teto de vidro, e eles estão machucados, caídos no chão.
Em um momento cujo grandes conglomerados midiáticos tentam criminalizar aquilo que é tido como avanço básico nos países desenvolvidos, que é o projeto do marco regulatório da mídia – projeto escrito pelo ex-ministro da comunicação social Franklin Martins no Brasil -, em um momento no qual Rupert Murdoch – barão da comunicação mundial -, é desmascarado na Inglaterra por práticas ilícitas na apuração das reportagens dos veículos do seu conglomerado midiático, período de avanços democráticos claros quanto à comunicação na Argentina e a criação de outros meios, principalmente as redes sociais, que proporcionam a todos os usuários a oportunidade de “formar opinião”, que desafia a linha editorial padrão dos grandes conglomerados e dos governos conservadores (leiam-se opressores).
O veículo que financiou o repórter invasor está em um momento de crise ética, sendo, com certeza, a revista semanal que mais enfrenta rejeição no meio acadêmico e na parcela da sociedade que tem formação superior. Mas não abandona a sua trincheira, faz o que pode para garantir a parcela do dinheiro público que recebe de governo tucano.
Desta vez abusou da fama de “antiética” e se pôs de uma vez por todas no pavilhão dos “faço mesmo e daí?”, envergonhando jornalistas como Mino Carta – que participou da fundação da revista -, e agora a vê a serviço da truculência direitista. Na verdade Mino se distanciou há muito tempo do projeto conduzido pela “Famiglia Civita”
O exímio “calunista” Reinaldo Azevedo já se posicionou colocando a revista como vítima de um processo sujo e corrupto, utilizando da velha retórica rasa e moralista dos neoliberais brasileiros. Vamos aguardar o que irá ocorrer, o fato é que a revista vai sofrer processo via PGR, apertem os cintos que dias interessantes estão por vir.
Felipe é Diretor de Comunicação da UJS de Jundiaí
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