segunda-feira, 10 de março de 2008



Todos cantam a sua terra

Homenagem a algumas mulheres pioneiras na construção do Movimento comunista, enviada por Mary Castro e lida na abertura da 1 Conferência sobre a questão da mulher por Jandira Feghali.

Ao recuperar esse texto,de março de 2007, deixamos nossa homenagem a todas as mulheres, nesse 8 de março de 2008

Mary Garcia Castro


"Todos cantam a sua terra. Eu também vou cantar a minha,”Passando por algumas mulheres emblemáticas de muitas outras.Nas cordas de muitas liras, na memória do povo brasileiro,não as quero fazer rainhas.Mas homenagear guerreiras-camaradas-amantes-mulheres militantes. Que colaboraram na modelação da nossa terra-utopia, a emancipação socialista,a construção do meu partido,O PCdoB.

Militantes que decolaram da terra, terra-povo, alçando teorias da prática revolucionária.
Elza Monnerat, a Dona Maria, dizia sobre o tempo passado na região da guerrilha do Araguaia: “Não tive problemas de adaptação porque fui criada na roça... As companheiras com quem convivi (no destacamento A) não tiveram dificuldades para se adaptar... elas queriam era ver como os camponeses vivem, participar de sua vida, dos seus labores, das suas alegrias e tristezas, viver como eles, do mesmo modo, a fim de poder avaliar, com a própria experiência (pois era um deles), o grau de exploração sofrido pelas massas camponesas, o abandono a que estão relegados, as aspirações que têm”.
Patrícia Rehder Galvão, a Pagu, presa em greve de estivadores em Santos —“primeira mulher a ser presa por participar da luta revolucionaria” — publica em 1933, Parque Industrial, primeiro romance proletário brasileiro, a partir da convivência com operários e operárias e dessa experiência destaca a importância de “levar às mulheres dos operários uma consciência de classe”. Pagu combinava terra arte, terra ativismo político. Nos anos 30, assina coluna feminista no jornal O Homem do Povo. Como diria outro poeta, “Por uma fatalidade, dessas que descem do além”, o partido a que se filia, o Partido Comunista do Brasil é fundado no mesmo ano da Semana da Arte Moderna.
Loreta Valadares como Pagu se destaca por história de vida por múltiplos tipos de militância, deixando contribuição singular em escritos teóricos tanto para a corrente emancipacionista de corte socialista como para a organização político partidária. “Sua concepção de radicalidade na construção do feminismo socialista emancipacionista também sugere subversão construtiva de conhecimentos que nos informam, por processo coletivo, partidário. Pensar um partido comunista que incorpore gênero e raça como sugere a produção de Loreta é resgatar das organizações de esquerda seu caráter ‘classista e movimentista’ (Therborn, 1995) ou seja com a flexibilidade dos movimentos sociais, o reconhecimento da luta de classe e a primazia dos e da proletárias, entendidos como os sem propriedades, como no Manifesto Comunista – em um projeto de norte revolucionário, socialista, emancipatório”. Também em Loreta, quer em diversos momentos da trajetória militante, e em outras dimensões, quer em seus escritos, a preocupação com os nexos e a dialética das combinações, como as que enfatiza ao discutir a corrente emancipacionista feminista socialista, isto é, “o entrelace de opressões de gênero raça e classe” e a”interface entre cultura e estrutura”.
Mulheres que combinam terras, que combinam linguagens, e com suas práticas propõem um socialismo renovado. Emancipação que se modela em idéias, é corrente de pensamento, e que pede chãos, é pratica que pede massa, sem massificações.
A guerrilheira Helenira Resende, a Fátima do Araguaia, estudava Letras na USP, foi dirigente da UNE em 1968 e partiu para a selva, para a luta da “União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo”. Combinava bravura e beleza de mulher negra. Escreveu-lhe, 33 anos após sua morte em combate em 1972, o poeta Bruno Ribeiro: “Quando balas da ditadura vararam teu coração de mulata, estavas na flor da idade. Na poética definição de um camponês que lhe conheceu na luta, eras a ‘flor da subversão na boniteza’. Quando vice-presidente da UNE pediste para que a juventude nunca deixasse de acreditar. Que o sonho não deveria ser inatingível pelo simples fato de ser sonho.
Conta João Amazonas, destacando o lugar da juventude e das mulheres na guerrilha do Araguaia: “Helenira foi uma dessas jovens. Perguntei-lhe certa vez: ‘Helenira, e depois que você sair daqui, o que gostaria de ser mesmo? Você estudava para ser o que?’ Ela respondeu: ‘Você sabe, eu estava querendo ser crítica de arte’. Continua Amazonas: “Imaginem, pensando em crítica de arte estando lá no Araguaia de arma em punho para enfrentar inimigo. E Helenira surpreendida numa emboscada, ao invés de fugir enfrentou o inimigo armado com muitas metralhadoras, possuindo apenas uma carabina. Atirou até a ultima bala...”
Mulheres que condicionadas por urgências impostas pelo sistema, pelos inimigos, na correlação de força de conjunturas, priorizaram um papel. Mas sonharam com a utopia dos trânsitos e combinações: do pessoal e do coletivo, da arte e da economia política; os nexos entre luta revolucionária por outra sociedade e o reconhecimento do lugar da arte e da cultura, sem fragmentações culturalistas e identitárias, como também do lugar do afeto, do pessoal.
Olga Benário Prestes, cuja vida foi orientada para a formação de militante internacionalista comunista, versada em artes de guerra, especialista em inteligência, deixa-nos como legado além de uma vida-texto de coerência militante, uma carta de despedida, em véspera de morte em câmara de gás em Bernburg, ao marido e à filha, o de a um amor que se estruturara na identidade em várias frentes. Escreveu Olga: “De ti aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo...”
Uma terra-corpo, corpos, nomes, amores-amor, Lutas, história que se faz em muitas,Aqui emblematizadas por Pagu, OlgaElza Monnerat, a D. Maria, Helenira Rezende, a Fátima, e Loreta Valadares.
Mas uma terra se singulariza por uma língua; é um espaço demarcado; tem a sua geografia e se representa em uma bandeira de definidas cores. E a nossa Gaia, terra-mulher-militante? E as que são a nossa história, a do meu Partido, o PCdoB?
Elas são a dialética no concreto da paixão, paixão por causa, por indivíduos, pelo vir a ser.
Transitaram por várias geografias, expandindo-se no tempo.Elas falavam uma língua, mas por diversos dialetos: a defesa de direitos democráticos, a pavimentação do comunismo, a abnegação militante, o sacrifício pela causa, a emancipação socialista.
Mas tinham histórias suas, formas de ser próprias, em combinações. Nunca foram só a professora, a jornalista, a artista, a poeta, a estudante, a teórica, a feminista, a que montava aparelhos, a especialista em segurança, em armas ou a guerreira.
Cuidaram de muitos, de muitas, e nos cuidam muito, são a nossa terra, a nossa história. Combinaram cores, bandeiras na bandeira, combinaram geografias em um internacionalismo nacionalista e um nacional informado pelo socialismo. Estiveram avante de seu tempo mas desse se alimentaram, seu tempo era o povo de então, por um povo outro,em se fazendo amanhã.
Olga, Pagu, Elza Monnerat, Helenira e Loreta sofreram bárbaras torturas, mas eles não lhe mataram as idéias,o ânimo, a paixão.
Todos cantam a sua terra.A minha, a nossa é cantada Na história do PCdoB,Das mulheres que ontem projetaram herança presente.
Hoje são outros tempos, que pedem outras ou múltiplas linguagens.Na trajetória perene, da construção da emancipação socialista.
Trajetória em que estão vários homens e várias mulheres em várias frentes, mas a pedir atenção às contribuições da perspectiva feminista socialista, à arte dos trânsitos, à combinação de níveis, — do pessoal, do político, da estética, da afetividade — na economia política; racializando-se, engendrando-se, jovializando-se a luta de classe, categoria eixo na nossa concepção marxista, feminista e emancipacionista. A busca da totalidade singularizada pela multiplicidade do real.
É quando a União Brasileira de Mulheres se entrelaça à União da Juventude Socialista, à União dos Negros pela Igualdade, à Corrente Sindical Classista, e se realiza em sindicatos, bairros, escolas e tantos outros lugares em que o dever do combate às metamorfoses do capitalismo e de injustiças várias exija a luta dos, das comunistas.
Redonda e em espiralGaia revoluçãoGaia mulheres.Pagu, Olga, Helenira, Elza, Loreta! Presentes.Presentes em tantas mulheres que hoje no PCdoBProjetam sua herança teórico-prática em lutas por outros presentes.
Termino resgatando de Loreta sua preocupação com um projeto político por uma práxis feminista emancipacionista que apele para a mobilização de homens e mulheres, considerando o norte socialista, o que segundo ela pediria a conjugação entre formulação teórica e a formatação orgânico-partidária, quando se avançaria em radicalidade.
Ao se conjugar feminismo e socialismo emancipacionista se estaria reafirmando, segundo Loreta, que “emancipação total, só no comunismo”. Mas advertia, engendrada no aqui e no agora.
Boa conferência para nós, homens e mulheres que se orientam por um projeto socialista, feminista, anti-racista, crítico à adultocracia e às repressões quanto a orientações sexuais, emancipacionista e pelo comunismo!

2 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Thiago, me ajuda a fazer a arte para um adesivo para o dia da eleição dos C.A.s da UNinove