segunda-feira, 20 de abril de 2009

Entrevista com Dineas Aguiar

NOSSA CARA SP- Você foi presidente da UPES na década de 50, quando a entidade esteve a frente de inúmeras bandeiras importantes para São Paulo e para o Brasil. Conte um pouco sobre sua experiência como militante secundarista e sobre as lutas da UPES da década de 50.


DINEAS AGUIAR- Em 1950, fui da diretoria geral da UPES e em 52 fui eleito presidente. Mais tarde, em 54 fui para o Rio de Janeiro. Nesse período o governador de São Paulo era Ademar de Barros, na era Vargas e os gols da UPES vieram de suas campanhas.
Como a campanha pela reforma no ensino junto com a UBES, a campanha do petróleo, a campanha pela paz e o fim da guerra da Coréia que era uma campanha nacional e internacional. Outras bandeiras da UPES nesse período foram o restaurante estudantil- que infelizmente não conseguimos concretizar nenhuma experiência- a luta pela meia passagem de ônibus para os estudantes e a meia entrada para cinemas, teatros, estádios de futebol e toda forma de cultura e lazer, essas bandeiras hoje vitoriosas. A gente até criou um mecanismo para pressionar os donos de cinema a vender a meia entrada que nos chamávamos de fila boba. Funcionava assim: nas principais sessões, quando as pessoas se vestiam elegantemente para ir ao cinema, nós da UPES infiltrávamos quarenta, cinqüenta estudantes no meio da fila. Quando um de nós chegava ao guichê pedíamos: uma meia-entrada, por favor. O vendedor de bilhetes respondia que não vendia meia-entrada e então nós perguntávamos o motivo para não vender, pedíamos, insistíamos. Cada vez que chegava um estudante, a fila atrasava uns dois ou três minutos. Daí chegava o horário da sessão, o filme começava e as pessoas desistiam de esperar e iam embora. Dessa forma o dono do cinema tinha prejuízo porque não conseguia mais lotar as salas. A “fila boba” começou aqui em São Paulo e se tornou um movimento que se espalhou por todo o país e hoje a meia entrada esta ai.


NOSSA CARA SP- No I encontro estadual da UJS que aconteceu em março deste ano em Americana, nossa organização estabeleceu uma meta de crescimento de 10 mil para 50 mil filiados. O que o você pensa sobre levar a idéia do socialismo para grandes parcelas da juventude brasileira? Quais os valores que a UJS deveria inspirar nessa juventude?


DINEAS AGUIAR- A experiência de convencimento tem que estar sempre diretamente ligada ao debate de classes, a luta dos oprimidos, do trabalhador e tem que partir do ponto de vista de ganhar mentes e corações. O capitalismo não tem mais o que oferecer a favor do desenvolvimento. É preciso estar ciente por qual tipo de progresso vale a pena lutar. O socialismo deve ser apresentado dentro da vivência juvenil, da sua realidade, necessidade, como uma expectativa de vida melhor para esses jovens. Um exemplo concreto de como o capitalismo não atende as necessidades e expectativas da juventude está no esporte, quando os atletas recebem investimento tardio para garantir um certo desempenho e depois da Olimpíada ou de qualquer outra competição, são abandonados pelos patrocinadores e tem que abandonar o esporte para arrumar um sustento. Isso acontece porque o produto do atleta é tratado como mercadoria quando deveria imperar o sentimento de propriedade social sobre esse produto, porque então tudo passa a ser propriedade social: o esporte, a cultura, a escola, a universidade, o hospital, a creche. O socialismo deve inspirar perspectiva, coisa que o capitalismo não pode mais fazer.

NOSSA CARA SP- Hoje está em pauta o debate sobre a educação brasileira e as mudanças que devem ocorrer nela. No seu ponto de vista, por qual escola o jovem socialista deve lutar?

DINEAS AGUIAR- Na verdade, ele deve lutar como estudante. A educação corresponde a necessidade das relações existentes na sociedade. É necessário lutar por uma escola que valorize a formação cultural dos jovens, mas que ao mesmo tempo seja técnica e científica. A formação fundamental já deve apontar perspectiva de vida para o estudante quando na verdade não dá formação para nada. Essa formação é necessária dentro de um projeto com desenvolvimento, continuidade porque na idade adulta, já se vincula a perspectiva de trabalho. As escolas técnicas abrem um campo promissor nesse sentido. É importante também focar a luta no hoje, no contexto de agora porque só assim percebemos as reais necessidades.

NOSSA CARA SP- Para encerrar, qual o papel da juventude socialista na crise do capitalismo?

RESPOSTA- Essa eu gostaria de ouvir vocês respondendo! (risos)Nos noticiários, o discurso sobre a crise vem sendo travado no sentido de tentar salvar o capitalismo, estão pensando em mecanismos para defender o sistema econômico, para sanar os problemas e dar continuidade no que ai esta. Se não houver uma ação revolucionária para transformar, se não houver uma força de uma parcela ampla da sociedade, o sistema se recompõe e volta a oprimir. E então o povo vai ser mais sacrificado até que se forme outra grande crise. O dever do militante da UJS é de apresentar o socialismo como opção de transformação e perspectiva de vida melhor. As ações devem ser no sentido de transformação. Olhar sempre em frente!

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