sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O erro fatal de Lula

Muita gente não vai gostar do que vou dizer, mas estou cada vez mais desconsolado com o cenário político. E, sendo sincero com vocês, pela primeira vez, desde 2002, vejo a direita com todas as condições de derrotar a esquerda e reassumir o poder. E o que é pior: por muitos anos, talvez até por dois mandatos presidenciais, até que destrua tudo que Lula construiu e o povo se dê conta da burrada que fez.

Nunca estive tão preocupado. Em 2006, por exemplo, não tive dúvida, nem por um segundo, de que Lula venceria. Os leitores mais antigos deste blog se lembrarão de quantos deles vieram aqui desanimados com a artilharia midiática e eu, em nenhum momento, fraquejei em minha certeza de que a estratégia dos reacionários não daria certo.

Lula construiu uma imunidade inquebrantável diante da mídia. Ela bateu nele durante tanto tempo que criticá-lo virou perda de tempo.

Claro que a economia ajudou. O bem estar social disseminou-se de tal maneira que ninguém quis saber de críticas, de acusações, de moralismo, há três anos. O povo votou com o bolso, com o estômago. Isso sem falar na fragilidade do adversário do presidente naquela ocasião (Alckmin), um dos políticos mais fracos da atualidade e que só consegue se manter à tona aqui no curral eleitoral tucano (São Paulo).

Mas só Lula é Lula; Dilma não é Lula. E, como se não fosse suficiente, é mulher (num país em que mulher quase não tem chance na política) e novata, eleitoralmente falando.

O país não conhece Dilma e as primeiras impressões que está tendo dela são as piores possíveis. Mentirosa, ardilosa, falsária, terrorista, arrogante... A mídia está colando nela tudo que há de pior. E Lula, o único com musculatura para reagir, ou não reage ou reage de forma pífia, e só quando provocado pela mídia.

Vejam o êxito que a oposição e sua mídia tiveram em literalmente acabar com Sarney a despeito de Lula defendê-lo. Nesse aspecto, acredito piamente na pesquisa Datafolha divulgada no domingo. Os números de sua reprovação são extremamente altos. Não há possibilidade de serem falsos como o percentual de intenções de voto de Dilma (que ainda está subindo) e o de Serra (cadente).

Enquanto isso, o candidato com maiores chances estatísticas de vencer a eleição presidencial foi literalmente blindado. Ninguém consegue fazer uma só crítica a ele na mídia. E vejam só que interessante: o Brasil deve ser a única grande democracia em que o principal postulante ao cargo de presidente não recebe uma só crítica ou acusação pública nem de seus adversários.

Sim, é isso mesmo que vocês leram: não é só a mídia que não critica Serra. Seus adversários (leia-se Lula, seu governo, seu partido e sua candidata) também não criticam. E isso com as toneladas de acusações e pedidos de investigações que há contra ele e contra seu governo.

Lula, seu governo, seu partido e sua candidata a sucedê-lo viram a mídia acusá-la de ter falsificado seu currículo acadêmico e ninguém teve coragem de dizer que Serra fajutou um prêmio “da ONU”.

A oposição a Serra na Assembléia Legislativa paulista se defende dizendo que não adianta fazer denúncias e críticas a Serra porque a mídia ignora tudo que for levantado contra ele. E essa que deveria ser a principal arma contra o tucano facistóide, é ignorada.

Pensem comigo: se a oposição a Serra em São Paulo está amordaçada pela mídia e se esta, a mando do tucano, ataca Dilma com virulência, só há uma pessoa neste país com musculatura para fazer as críticas que ninguém faz: Lula. Ele poderia dizer publicamente que a mídia protege Serra, que ataca Dilma sem parar, falsificando até documentos contra ela, porque trabalha para o tucano.

Se o presidente da República mais popular da história do país recomendasse à população que prestasse atenção em como o candidato mais forte à sua sucessão deveria estar na berlinda midiática tanto quanto Dilma, mas não aparece a não ser sendo elogiado, e que os escândalos de seu governo (dezenas de pedidos de CPI) são encobertos pela mídia, as pessoas perceberiam.

No dia a dia, seria fácil constatar que Lula teria razão. A cada rodada de acusações a Dilma no Jornal Nacional, no telejornal da Gazeta, no da Band, no do SBT, nos jornalões e revistões, as pessoas se perguntariam como é possível que os adversários de Serra também não o atacam, e aí Lula diria que atacam, sim, e acusam, mas a mídia censura. Teria que dizer publicamente. Em alto e bom som.

Além disso, uma estratégia fortíssima seria dizer claramente à sociedade que a mídia e a oposição tentam paralisar o Congresso e o governo num momento de crise econômica para sabotar o país, de forma que ele vá mal e Serra se eleja montado na insatisfação popular que sobreviria. Esse argumento colocaria a sociedade contra a mídia e a oposição.

Lula certamente não critica Serra e a mídia com decisão porque não quer criar uma crise política, mas a crise política já existe. E paralisou o Congresso, pois o Senado é a casa ratificadora das decisões da Câmara e, com ele paralisado, o que está paralisado é o Poder Legislativo.

O enfrentamento é inevitável. A situação não é mais a de 2002 ou a de 2006. Em 2002, a memória do desastre FHC estava fresca, latente. Em 2006, colocaram aquele sujeitinho ridículo, patético para enfrentar o político mais carismático da história recente deste país.

Agora, tudo mudou. Uma pessoa que jamais enfrentou uma eleição está começando pela mais difícil de todas, sob fogo cerrado de TODOS os grandes meios de comunicação e, como se fosse pouco, sem ninguém do seu lado para reagir. Incluindo ela própria.

Abandonar a questão da ficha policial falsa publicada contra si na primeira página da Folha foi o maior erro de Dilma – e de Lula. Se tivesse feito barulho, não teria acontecido o factóide da secretária da Receita Lina Vieira. Ao não reagir ao absurdo que foi a falsificação de um documento público e o endosso da Folha àquela falsificação, Lula, Dilma e o PT deram a senha para novos ataques do mesmo tipo, como é esse da tal secretária.

Mais grave ainda é nem o presidente, nem a vítima da nova campanha difamatória da mídia, nem alguém da cúpula do PT – e só alguém da cúpula do partido poderia exigir voz na mídia – fazer uma única pergunta à sociedade: se falsificaram até uma ficha policial contra Dilma, por que não teriam cooptado a secretária demitida – e, portanto, ressentida – da Receita para fazer uma acusação falsa à ministra?

Mas, pensando bem, há um lado bom na retomada do controle do Estado pela direita, se isso ocorrer no ano que vem. A esquerda ficará uns vinte anos fora do poder. Quem sabe, desta vez, crie juízo e finalmente entenda que, sendo tão burra, tão dividida, tão covarde, só conseguirá se manter no poder se surgir outro fenômeno político como Lula, o que talvez nem volte a acontecer neste século.

Por outro lado, nós, nossos filhos e netos pagaremos por esse erro fatal que atribuo exclusivamente ao presidente Lula, um homem que tenho toda a moral do mundo para criticar porque o defendi durante vinte anos com unhas e dentes, pois sabia que, no dia em que chegasse ao poder, mudaria o Brasil como mudou. Contudo, ele está destruindo tudo com base numa estratégia covarde e comodista.

Por Eduardo Guimarães
Fonte: Blog Cidadania
edu.guim.blog.uol.com.br

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