
ZUENIR VENTURA
As feiras de livros são uma saudável febre que está se alastrando pelo país como uma espécie de gripe do bem. São poucas as capitais ou cidades médias — e até pequenas — que não promovem a sua uma vez por ano. Agora mesmo, eu, que sou um feirante tão assíduo quanto Veríssimo, Carlos Heitor Cony e Fernando Moraes, acabo de vir de uma em Ribeirão Preto e já vou para outra em Paraty. A de São Paulo é a segunda maior a céu aberto do Brasil e uma das mais democráticas: é toda de graça; a outra, mais internacional e elitista, cobra ingresso para as palestras e é visitada por 30 mil pessoas. Aquela tem nove anos e esta, sete. Estive na primeira edição das duas, e pude acompanhar a evolução delas.
A de Ribeirão cresceu tanto que hoje é o principal evento cultural da cidade, atraindo em onze dias mais de 400 mil visitantes que se espremeram em 16 mil metros quadrados e entre mais de 70 estandes de livros. Misturando literatura e música, espetáculos e mesas redondas, a 9ª Feira ofereceu ao público cerca de 600 manifestações artísticas. De autores, compareceram Thiago de Melo, Moacyr Scliar, Milton Hatoum, Marina Colasanti, Laurentino Gomes, Marçal Aquino, José Miguel Wisnik, Muniz Sodré e mais cem outros.
À noite, de 20 mil a 30 mil pessoas se aglomeravam na praça principal para assistir aos shows. Foram 60 — de Paulinho da Viola, Adriana Calcanhoto, João Bosco, Toquinho e MPB-4, Vanessa da Mata, Maria Rita, Lenine, entre outros. No gênero, é certamente a maior oferta de atrações extraliterárias que existe. Conhecida até agora pela monocultura da cana de açúcar, Ribeirão Preto periga tornar-se famosa pela cultura dos livros.
Em um levantamento que acaba de realizar sobre os maiores eventos literários do país, a revista "Exame" concluiu que o mercado editorial e o número de leitores vêm crescendo. Em 2000 eram 26 milhões e já em 2007, mais de 60 milhões. Apesar do crescimento, porém, o Brasil ainda lê pouco, menos até do que a Colômbia, por exemplo, onde cada pessoa lê 2,4 livros não didáticos por ano, enquanto no Brasil apenas um pouco mais de um livro (1,3) é lido por pessoa. Nos EUA, o índice chega a 5,1 e na França, a invejáveis sete exemplares.
Os eventos literários como feiras, salões e bienais não vão sozinhos resolver esse problema, evidentemente. Mas associando o livro a um clima festivo (basta ver como as crianças nesses espaços o dessacralizam, transformando-o em brincadeira), eles contribuem pelo menos para mostrar que a leitura pode ser um prazer, mais que um dever.
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Por falar em literatura, veja a frase atribuída a Eça de Queirós que está circulando na internet: "Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão". Nada mais oportuno no momento em que tantos fichas-sujas se preparam para se reeleger.Texto publicado no Globo de hoje
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