terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Chacina - Parte3/4

Exatamente em 1976, no bojo da resistência, ocorre a Chacina da Lapa, em que uma parte da direção central do PCdoB foi atingida pela repressão. Na realidade, o objetivo da ditadura era tentar aniquilar este núcleo dirigente porque, dos partidos de esquerda, o PCdoB foi aquele que conseguiu sobreviver minimamente e comandou a maior resistência armada ao regime: a Guerrilha do Araguaia. Assim, ele passou a ser o alvo prioritário do regime militar. Os agentes do regime perseguiram esse alvo. Por meio da delação de Jover Telles, eles conseguiram localizar a reunião de uma parte do grupo dirigente comunista. Com o objetivo de aniquilar tal núcleo e, sobretudo, sabendo que nessa reunião estaria presente João Amazonas, as forças da repressão invadiram a casa no bairro da Lapa em São Paulo em 16 de dezembro de 1976. Companheiros da direção que já haviam deixado a reunião foram presos, e os que se encontravam no interior da casa foram sumariamente assassinados – entraram atirando e as pessoas não tiveram oportunidade de reação. O objetivo era matá-las sumariamente. Talvez, essa tenha sido a última ação mais importante da ditadura contra a resistência na época.

Para as forças da repressão, João Amazonas estava no Brasil, porque o delator não sabia que ele estava fora do país. Aliás, para o delator, Amazonas estaria na reunião, porque segundo a decisão de que ele participou, na reunião anterior, Pedro Pomar é que deveria viajar para compromissos fora do Brasil. Mas, de última hora aconteceram problemas na família de Pomar e Amazonas teve de ir em seu lugar. João Amazonas, Dyneas Aguiar e eu estávamos exatamente na China. Porque além de um congresso no Exterior, estava programada uma viagem de nosso Partido à China, a convite do Partido Comunista local. Isso aconteceu em dezembro de 1976 (logo depois da morte de Mao Tsetung). Lá fomos comunicados pelo Partido Comunista da China sobre a invasão da casa em que o Partido se reunia em São Paulo. Para nós este acontecimento teve um impacto muito grande.

Em 1976 o Brasil entrava numa fase a que podemos chamar de declínio da ditadura, de derrota política e moral da própria ditadura, imposta pela resistência. Isso levou a que o regime, sobretudo a partir do governo Geisel, buscasse uma saída para a situação. Nessa época, ele definiu o caminho de uma abertura chamada “lenta, gradual e segura”. Para isso, seria necessário exterminar o que existisse de força política de esquerda, talvez mais conseqüente e que, para eles, a que de fato levou ao enfrentamento maior contra a ditadura. Então, isso também reforça essa idéia de tentar pelo menos aniquilar, ou até neutralizar, essa força política no processo de abertura. Segundo comentários de jornalistas, na época, os generais tinham feito uma espécie de juramento para destruir o Partido, porque eles não engoliam a resistência, sobretudo a do Araguaia. Tanto é verdade que houve censura em todos os níveis à resistência armada do Araguaia e a imprensa não podia noticiar nada. O próprio Exército não reconheceu a luta que ele fazia contra a guerrilha. Portanto, houve uma espécie de censura draconiana sobre esse acontecimento. Prova disso é a mobilização por parte da repressão e do Exército de grandes forças para conter a resistência. Eles foram obrigados a fazer três grandes operações, às quais chamavam de cerco e aniquilamento. Então, as Forças Armadas fizeram um grande investimento para destruir a Guerrilha. Isso, evidentemente, levou os generais a intentarem destruir esse partido, uma vez que o núcleo da direção da Guerrilha era do Partido.

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