terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Dirigindo o Partido do Exterior

Em função das mortes dos dirigentes na Lapa, tivemos de mudar de planos, na época, porque estávamos na China e não poderíamos mais voltar ao Brasil, pois havia sido atingida a maior parte do núcleo dirigente do Partido. Não havia nenhuma segurança para a volta. Isso nos levou – tanto Amazonas, quanto Dyneas e eu – a, de forma forçada, ficar exilados (só retornamos com a Anistia, no final de 1979). E então fomos obrigados a, de fora do país, tentar retomar os contatos com os companheiros. De fato nos tornamos um núcleo dirigente. Remontar o núcleo dirigente e começar a conduzir o Partido lá de fora foi nosso desafio. Começamos a fazê-lo entre a Albânia e a França, e o período em que estivemos exilados ficamos na França. O próprio jornal A Classe Operária passou a ser escrito por nós. Foi um trabalho difícil, complicado, penoso, paciente, de recomposição da organização. Até que conseguimos recompor e manter contatos para realizar aquilo que se constituiu no primeiro fórum de reconstrução partidária: a 7ª Conferência, ocorrida no exterior com os dirigentes principais que estavam fora da prisão. Este encontro aconteceu na Albânia, em 1978. Em 1979 veio a anistia, quando finalmente retornamos ao país. A nossa volta, então, dá início ao processo de reconstrução partidária. Essa reestruturação foi necessária porque o partido havia perdido 11 dirigentes do Comitê Central, além de uma série de quadros mortos no Araguaia.

Pomar, Arroyo e Drummond... três gerações de lutadores

Falar de Pomar, Arroyo e Drummond é uma forma de rendermos homenagem aos heróis e mártires desse período. Papel destacado, evidentemente, tiveram vários dirigentes partidários. No caso deles é importante considerarmos que cada um representa uma de três gerações.

Pedro Pomar – na época com 63 anos de idade – é da geração de João Amazonas, que reorganizou o Partido em 1943. Pomar vinha do Pará e desenvolvia atividade intelectual. Também foi um dos reorganizadores do Partido em 1962. Por ser de formação intelectual e um comunista de grande experiência deu grande contribuição à orientação do Partido. Ele dominava várias línguas e traduziu o livro Ascensão e Queda do III Reich, em três volumes, e contribuía com várias traduções de livros importantes. Era um homem de uma longa e destacada militância, dedicada inteiramente ao Partido em aproximadamente 40 anos.

Ângelo Arroyo tem origem operária, de família espanhola que teve papel importante nas lutas operárias de São Paulo no início do século passado. Um operário que se ilustrou no Partido. Ele já é de uma geração posterior à de Amazonas e de Pomar e tinha 48 anos. Arroyo foi formado pelo Partido e passou a escrever com muito talento nesta tarefa.

Por fim, João Baptista Drummond pertence a uma outra geração ainda. Era mais jovem. Ele veio da Ação Popular e integrou o Partido com a junção da AP. Isso ocorre exatamente no início da Guerrilha do Araguaia, por volta de 1972. Era uma pessoa jovem, na época da Chacina estava com 34 anos de idade.

O assassinato desses três companheiros, num mesmo episódio histórico, é emblemático porque é representativo de três gerações de comunistas. Cada um com sua origem, com seu papel, mas todos engajados na causa democrática e revolucionária.

Renato Rabelo é presidente nacional do PCdoB

*Artigo escrito por ocasião dos 30 anos da Chacina da Lapa e publicado em livreto do então Instituto Maurício Grabois (para baixar o livreto, clique aqui)

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