"Tio, é embaçado usar esse terno e gravata. Só vesti em quatro vezes na política. Ainda bem que nossa Câmara é flexível. É mais confortável legislar de calça larga e camiseta." Anderson parte para sua segunda vereança em Francisco Morato, o município com os piores índices sociais entre as 38 cidades da Grande São Paulo. Como rapper, ele atendia pelo nome de Anderson 4P (sigla do lema "poder para povo preto"). Agora é o nobre colega Anderson Domingos da Silva.
Como compositor, Anderson fazia as letras do grupo EIP (Exterminadores da Ignorância Preta) "Eram letras de identidade racial, para aumentar a auto-estima dos manos. Agora minha visão da política é mais complexa. Antes pensava que a revolução viria pelas armas, afinal, cresci em um bairro sem lei, vendo corpos pela rua. Peguei o primeiro revólver na mão com dez anos. Assim, era fácil imaginar uma guerra. Agora sei que a mudança chegará votando e elegendo gente comprometida com a mudança", argumenta o político de 33 anos.
As leituras passaram do líder negro norte-americano Malcolm X para o pensador alemão Karl Marx e, depois de eleito, para o regimento municipal. As letras de hoje, porém, continuam incisivas. "Político tem cara de besouro-rola-bosta/Eu sou inseticida que acaba com essa corja" é trecho da música Disciplina, que fez para o grupo OPS (Odiados Pelo Sistema).
A respeito da violência em seu município, Anderson culpa a falta de atuação das forças oficiais. "O Estado não se faz presente desde minha infância: no meu bairro só tinha a escola, mais nada. Dos 30 alunos homens da minha série, sou um dos poucos remanescentes. Muitos entraram para o tráfico e morreram. Mas eu sou um exemplo para a molecada que está vindo agora, para ocupar espaços de poder sem precisar ser um gerente de boca de fumo", dispara o "papo reto" de quem "corre pelo certo".
Anderson já era verador desde 2004, quando tentou a sorte nas urnas e conseguiu a eleição, como primeiro vereador petista do município - tanto é que foi o líder da oposição em muitos momentos como único representante dela.
A reeleição foi complicada, mas conseguiu ser um dos três únicos vereadores a se reeleger na cidade. "Fizeram tanta campanha difamatória que não sei como a minha própria mãe votou em mim", conta. "Muito irmão não votou em mim porque qualquer nota de R$ 20 compra a escolha do cara. Esse é a realidade."
Ele promete criar nos próximos anos uma casa de cultura hip hop semelhante a que existe em Diadema. Na gestão passada, conseguiu aprovar o 13 de maio como o dia municipal do hip hop: "É para apagar com essa falsa abolição que existe nesse dia."
Anderson fala em uma força coletiva após a conscientização e que a sigla 4P de sua denominação pode significar também "poder para o povo pobre, periférico e proletário". Ele diz acreditar que "uma revolução silenciosa" está começando por Francisco Morato.
Prova dessa mentalidade de grupo é que ele não conseguia durante a reportagem se adaptar ao formato da entrevista perfil individualizada em que se enquadra este texto: toda hora, ele interrompia as respostas para apresentar personagens da cidade e da comunidade. Como se o retrato só valesse se fosse do conjunto.
Fontes: UOL e Nação Hip Hop Brasil
2 comentários:
UJS-São Paulo aê!
Tropa de elite osso duro de roer!
Cara, Parabens pela luta, é no dia a dia, que com determinação, você venceu as eleições e se reelegeu, e com certeza conseguirá fazer o projeto em Francisco Morato similar ao de Diadema para a Galera do Hip Hop! Abração, Saudações Estudantis, JD
Postar um comentário