sábado, 14 de março de 2015

Meu legado

Carolina Maria de Jesus
Filha de mãe solteira, Carolina Maria de Jesus, nasceu na cidade de Sacramento, estado de Minas Gerais, no dia 14 de Março de 1914. Por se filha ilegítima, como era considerada a criança filha de um homem casado, a pequena Carolina não teve uma vida fácil. Aos sete anos de idade foi obrigada pela mãe a frequentar uma escola, que era custeada pela esposa de um rico fazendeiro, entretanto, só a frequentou até o segundo ano, tendo apenas aprendido a ler e escrever.

Aos 23 anos de idade, sua mãe veio a falecer, o que a fez decidir migrar para a capital Paulista, toda via, a mudança só aconteceu no ano de 1947, dez anos após a morte de sua mãe e momento em que as favelas começavam a nascer nas grandes metrópoles.

Foi na favela de Canindé que a escritora deu início a sua vida na nova cidade. Logo depois conseguiu emprego na casa do médico Euryclides Zerbini, precursor da cirurgia do coração no Brasil e que a deixava usufruir de sua biblioteca.

De personalidade forte, pulava de emprego em emprego, até engravidar de seu primeiro filho, João José, em 1948. Logo depois vieram José Carlos e Vera Eunice, cada um de um pai diferente.

Solteira e com três filhos, começou a catar papel para sustentar a família. Toda a noite saía em busca de reciclados e foi através desse ofício que descobriu a possibilidade de escrever. Quando encontrava revistas e cadernos antigos, Carolina os guardava para escrever em suas folhas. Começou a escrever contos, poesias, romances, sobre seu dia-a-dia, sobre como era morar na favela, sobre seus vizinhos... Provocando assim o descontentamento deles, que se sentiam invadidos e ameaçados quando ela lhes dizia que estava escrevendo um livro e que os colocaria nele.

Em uma dessas confusões já consideradas corriqueiras, seu caminho se cruzou com o do Jornalista Audálio Dantas, que a descobriu como escritora. Ao ouvir que Carolina estava escrevendo um livro, Audálio sentiu-se instigado em saber do que se tratava o livro que ela dizia ter feito.

Dentre todos os cadernos que tinha em suas mãos, o jornalista não se conteve diante do que falava sobre o cotidiano da favela, segundo ele, o texto tinha uma forma de narrar próximo à poesia e era tão forte que não poderia ser escrito por qualquer escritor, apenas por quem tivesse vivido a situação.

Empolgado, Audálio que trabalhava na extinta "Folha da Noite", correu para a redação do jornal e publicou alguns trechos dos textos que tinha visto. A edição da “Folha da Noite” de 09 de Maio de 1958 repercutiu em várias publicações do país e dois anos depois, era lançado o primeiro livro da escritora, “Quarto de Despejo”, que retratava a vida na favela que segundo ela, “Era o quarto de despejo de uma cidade, onde os pobres eram os trastes velhos".

A primeira edição de "Quarto de Despejo" saiu com trinta mil exemplares, foi reimpressa sete vezes em 1960, traduzida em 14 línguas em 20 países e no total vendeu 80 mil exemplares.

Carolina de Jesus lançou mais três livros: "Pedaços de Fome", "Casa de Alvenaria" (que retratava sua mudança da favela para uma casa de alvenaria, no bairro de Santana) e "Provérbios". Postamente, em 1982, foi lançado na França "Diário de Bitita", que chegou ao Brasil pela Editora Nova Fronteira em 1986.


Maria Carolina faleceu em São Paulo no dia 13 de Fevereiro de 1977, aos 63 anos de idade, deixando um legado de força e resistência.

Fontes: Folha de São Paulo, Museu afro brasileiro, jornal O globo.


Por Luciana Faustine


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